Nimona | Uma perda para Disney e grande vitória da Netflix

Nimona” é uma graphic novel escrita por ND Stevenson, que também é responsável por “Lumberjanes”e showrunner de “She-Ra e as Princesas do Poder”, e conta a história de uma extraordinária metamorfa de origem desconhecida e que sonha em ser comparsa de Ballister Coração-Negro, o maior vilão de todos os tempos. Quando conquista a simpatia do “chefe”, ela logo descobre que ele tem escrúpulos, não apoia seus planos mais radicais e também não pretende se vingar do arqui-inimigo, Ambrosius, de uma forma tão drástica.

A obra chegou às livrarias em 2015 e no mesmo ano, teve os direitos adquiridos para ganhar uma adaptação pelo Blue Sky Studios (“Rio” e “A Era do Gelo”), que pertencia a 20th Century Studios. O projeto começou a ser desenvolvido, mas após a Disney adquirir a Fox em 2019, o longa foi adiado diversas vezes até que Disney efetivamente cancelou o projeto e encerrou as atividades do Blue Sky em fevereiro de 2021 devido às “atuais realidades econômica” causadas pela pandemia de COVID-19.

Além de uma grande aventura, “Nimona” também aborda a história de amor entre Ballister e Ambrosius, o que não teria agradado os executivos do estúdio, de acordo com relatos de ex-funcionários da Blue Sky. Depois de migalhas de representatividade nas animações da Disney como “Mundo Estranho” e “Lightyear”, Nimona ganhou uma nova casa e liberdade para retratar o romance.

Na Netflix, a história passou por mudanças e ganhou ainda mais espaço para abordar a trama queer. Ballister (Riz Ahmed) é um jovem cavaleiro que foi escolhido para representar o início de uma era no reino medieval e tecnológico, mas o novo atrai o medo para a população. Ele acaba sendo acusado de um crime que não cometeu e além de tentar provar sua inocência, também precisa reconquistar a confiança do seu grande amor, Ambrosius (Eugene Lee Yang), e retomar relacionamento.

Balister e Ambrosius em “Nimona” (Foto: Divulgação/Netflix)

Com seu jeito punk e cabelo rosa, Nimona (Chloë Grace Moretz) encontra nesse incidente a oportunidade de se juntar ao vilão e enfrentar a Instituição, uma organização conservadora que rege o reino e que rejeita o diferente, mantendo-os “protegidos” com uma grande muralha que os separa do mundo externo. A protagonista é uma representação das pessoas da comunidade LGBTQIAP+, especialmente as pessoas trans e não-binárias, que é o caso de Stevenson, que passou pelo processo de autodescoberta enquanto criava a HQ.

A jovem é constantemente questionada: “o que é você?”, e responde com toda sua confiança, sem dar margem para qualquer outra interpretação: “Sou Nimona”. Nem mesmo Ballister, que se apega rapidamente a ela, a polpa da pergunta. O cavaleiro se oferece para estudá-la como “um animal de laboratório” e sugere que a vida de Nimona seria muito mais fácil se ela agisse apenas como uma garota normal. Mas ela não tem a menor intenção de agir para ser socialmente aceita.

Nimona e Balister na animação (Foto: Divulgação/Netflix)

Nimona mantém a beleza do traço de Stevenson e que lembra os contos de fadas, mas a personalidade da metamorfa é o verdadeiro charme do filme. Com respostas rápidas e irônicas, o jeito espirituoso torna a personagem encantadora. Explorando os limites que a animação proporciona, a heroína usa suas habilidades de transformação, representação lúdica da fluidez de gênero, para ajudar o herói se transformando em diferentes seres, como um dragão, uma baleia e até um tubarão que dança.

O filme vem em uma leva de animações que encantam o público com autenticidade, personalidade forte e claro, muito estilo, como “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”, “O Gato de Botas 2” e “Red: Crescer É uma Fera”. E se a Disney realmente tiver escolhido cancelar o projeto que já estava 70% por sua narrativa queer, a Netflix triunfa justamente por saber aproveitar o mesmo aspecto, de forma ainda mais potente e corajosa.