O Mundo Depois de Nós foi uma grande surpresa na Netflix. O filme conta a história da família de Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawk), que decidem tirar férias longe de tudo e todos no interior. Após um dia aproveitando a praia e a calmaria da cidade pacata, algumas coisas bizarras passam a acontecer. Comunicação, internet, gps, rádio param de funcionar, como se eles estivessem isolados e deixados à deriva, seguido de uma mudança ecológica que coloca a segurança da família em risco. Junto com isso, G. H. Scott (Mahershala Ali) e sua filha, Ruth (Myha’la), chegam para unir a desconfiança diante da situação caótica que se encontram.

Indubitavelmente, O Mundo Depois de Nós causa desconforto pela sua proposta inquietante. Esse suspense aborda uma paranoia crescente num futuro distópico cujo tecnologia e comunicação são barrados. Assim como os protagonistas, somos isolados das informações externas, construindo um clima agoniante conforme mais mistérios do que respostas surgem. A verdade é que muito do filme funciona com a descrença do espectador, aceitando que a realidade simplesmente essa. Afinal, como saberíamos o que está acontecendo com toda a comunicação cortada?
É com isso que o longa cria essa ambientação desconvidativa, seguindo por uma direção que nos desnorteia, usando de um fotografia claustrofóbica para nos fazer perder a noção de espaço e geografia, aumentando ainda mais o estado de isolamento. A câmera é invasiva e aborda planos que invadem a privacidade das famílias de Amanda e G. H. Entretanto, nem tudo na sua fotografia é plausível.

Ao longo do filme, os paralelismos entre as cenas tentam moldar conexões que não fazem tanto sentido assim, se apropriando de ângulos sofisticados e estilosos que não passam de uma escolha estética. Em outras palavras, a direção pedante de Sam Esmail exagera com um visual que diz menos do que quer mostrar. É o velho caso de uma história simples que quer ser mais do que realmente é.
Ainda assim, suas subtramas trazem ao cerne da discussão as relações humanas e animais, trazendo um olhar crítico ao lado ecológico com falas e situações envolvendo a revolução dos animais dentro dessa distopia. Contudo, apesar de achar intrigante esse lado social, Esmail não consegue cadenciar o terror psicológico do ataque cibernético com sua reflexão sobre relacionamentos humanos. Apesar disso, é bom lembrar que Sam Esmail é um diretor iniciante que pode amadurecer seu toque, sendo válido a repercussão de seu primeiro longa-metragem e ousadia de trabalhar com tantas camadas.
O Mundo Depois de Nós é um longa disponível na Netflix que quer abordar várias coisas em uma só, mas que peca na falta de conexão entre suas subtramas. É muito estiloso em sua fotografia, tão estiloso que visual acaba falando mais alto do que a narrativa propriamente dita. Um bom entretenimento.

