De The OC no início dos anos 2000 a Gossip Girl e Pretty Little Liars no fim da década, quase todos nós já tivemos uma série teen de estimação. Elas geralmente falam sobre eventos marcantes ou episódios recorrentes durante a adolescência. A grande questão é que todas essas produções fazem um retrato da juventude muito distante da realidade, jovens que vão a escola de limousine, ou como a atual Riverdale, que explora o universo adolescente apostando no misticismo. Além disso, pouquíssimas delas exploram a fase de transição para a idade adulta. Nesse cenário, Grown-ish surge como um must-watch para quem procura por identificação e compreensão.
‘Grown-ish’ é um spin-off de Black-ish, uma sitcom sobre uma família negra que vive em um bairro nobre majoritariamente branco. Apesar de ter o mesmo tom e explorar assuntos sérios com um humor único, funciona perfeitamente sozinha e parece ter sido criada independentemente.
Zoey Johnson (Yara Shahidi), a filha mais velha da família, passa para a universidade e tem que lidar com os desafios de morar sozinha, as dificuldades da vida acadêmica, e principalmente, todos os questionamentos e incertezas que a fase not a girl not yet a woman (não mais garota, mas também ainda não uma mulher) oferece. Em sua primeira aula, no indesejado turno da noite, com uma grande alusão ao icônico Clube dos Cinco, Zoey faz amigos que estão tão perdidos quanto ela. Esse é o ponto de partida principal da série. Surpreendentemente, ela vai muito além do que parece estar intencionada no episódio piloto e sabe explorar os 20min de cada episódio muito bem.

Uma peculiaridade na protagonista é o fato dela não obedecer a imposição de que mulheres negras tem que ser fortes sempre. Sim, ela e o estilo dela são arrasadores. Mas após sair de sua zona de conforto, Zoey mostra um lado seu não conhecido pelo público de Black-ish. Pessoalmente, a casca de perfeição que envolvia a primogênita dos Johnson era o que fazia dela a minha personagem menos favorita. Dessa vez, Zoey têm problemas reais e comuns de pessoas de sua idade, e em meio a sua vulnerabilidade enquanto tenta descobrir a si mesma um dia de cada vez, ela cria diálogos com o telespectador. Isso traz uma aproximação entre eles e desperta o sentimento de empatia pela personagem, mesmo quando ela faz tudo errado. Afinal, ela é humana.
Embora Zoey seja a personagem principal, o elenco coadjuvante tem tanta importância e espaço quanto ela. A diversidade é o que mais chama atenção nele. Cada um traz narrativas muito interessantes, mas o sucesso delas se dá pela forma como tudo é abordado de forma orgânica, como resultado de uma troca natural que ocorre entre amigos. Sky e Jazz levantam a questão da solidão da mulher negra, Anna é uma imigrante republicana e em contrapartida Aaron é um ativista democrata, Luka vive na contramão de sua geração, Vivek é filho de indianos e vende drogas por status, e Nomi ainda não se assumiu bi para sua família.
Você vai abraçar suas causas, ou compreende-los, e nos momentos mais simples se enxergar neles. Grown-ish é capaz de te arrancar sorrisos enquanto te faz pensar, cria uma atmosfera aconchegante e faz você se sentir parte do grupo.
A boa notícia é que a primeira temporada completa está disponível na Netflix e a ótima é que foi renovada para uma terceira este ano.
Deixe um comentário