Resenha | Cartas Para Martin

Cartas Para Martin chegou ao Brasil em agosto pela editora Intrínseca. O livro escrito por Nic Stone (Dear Martin) foi publicado em 2017, apresenta o racismo recorrente em nosso cotidiano através de uma linguagem suave à sua maneira, sem palavras difíceis, sem ser tão carregado e no tom correto para que, inevitavelmente, o leitor sinta o impacto do assunto, para que mesmo quem não tem tanta proximidade com o tema compreenda e reflita atitudes com teor racista que tomamos ou notamos e com indiferença.

A trama traz a história de Justyce, um garoto negro de 17 anos de Atlanta no último ano do ensino médio. E, a partir de todo racismo que sofre ou acompanha no noticiário, inicia um experimento: ser como Martin (Luther King). Já havia estudado a história de lutas do reverendo, mas daí em diante intensifica as pesquisas e mantém consigo um caderno para escrevê-las, além de buscar ser um pouquinho como ele.

O que Martin faria?

Jus é filho único de uma mãe com poucas condições financeiras. Com bolsa de integral é um garoto brilhante, o quarto colocado da turma. Seu melhor amigo Emanuel, o Manny, é seu oposto, também negro, mas de pele clara e pais com boas condições. Mesmo sendo melhores amigos, Manny anda com um grupo de garotos brancos que frequentemente fazem piadas racistas e comentários indevidos, Jus não se sente confortável e durante bastante tempo tenta abrir os olhos do amigo, como resposta recebe comentários de que é muito exagerado e deve “pegar mais leve”.

Como premissa descrita na primeira página, Jus se ver algemado por um policial branco ao tentar ajudar sua ex-namorada que não tinha condições de dirigir. A alegação foi de que Jus estaria tentando sequestrar a garota e não teve nenhuma oportunidade de explicar o que estava acontecendo. O trauma foi inevitável, afinal, não fazia nada de errado.

Após o incidente, Jus mantém outro olhar algumas situações e intensifica cada vez mais suas cartas e o propósito delas. Além disso, seus dilemas nos põe para pensar: nascido no subúrbio e com toda batalha de sua mãe trabalhando todos os dias, ganhar uma bolsa para poder se desenvolver e vencer na vida. Os que cresceram com ele o colocam como “traidor” por estar tentando ascender em um lugar que não é dele, lugar que seria de brancos, Jus pensa se realmente está fazendo o correto, inclusive discute a respeito com sua mãe, dizendo que não se sente pertencente àquele lugar, onde entre todo os alunos é um de apenas três negros da classe e dentre o corpo docente, apenas um professor é negro (de pele clara e de olhos verdes).

Em um debate em aula, Jared (amigo de Manny) tenta provar que o racismo não existe mais e que todos são vistos como iguais, sustenta sua fala dizendo que “as pessoas são julgadas pelo pelo caráter, não pela cor da pele”, mesmo sabendo do ocorrido com Jus.

Dividido em duas partes, a primeira é tomada por diversos incidentes que se acumulam ao longo do tempo e abrem espaços para diálogos (dos personagens) e reflexões (para o leitor). A segunda parte detém outra perspectiva, situações que desencadeiam em outras. Assim como a mudança de atitude do Manny, que percebe o quão ignorante vinha sendo e decide parar de fazer algumas coisas, como sair do time de basquete, esporte que praticava devido ao estereótipo social que se enquadra: de jogador de basquete alto e negro.

A história é de grande impacto a quem ler, os mais sensíveis podem ler em lágrimas graças à falas como “Tison alega que temeu pela própria vida, valendo-se de vinte e sete anos de serviço como policial para comprovar que é qualificado para detectar uma ameaça genuína”, como se apenas pela cor da pele se define o que uma pessoa é ou deixa de ser. Ver jovens negros serem julgados, presos e assassinados sem terem cometido crime algum, mas principalmente por saber que tudo isso não se restringe às páginas de uma ficção.

“Pra que andar na linha se as pessoas vão olhar pra mim e esperar o pior”

Mesmo com a sequência de diálogos e situações intensas e delicadas ao mesmo tempo, o fim do livro foi bem simplista, trazendo informações pendentes e futuro incerto, algo que possa estar definido em Dear Justyce, só saberemos assim que chegar ao Brasil.

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