Assustadoramente hipnotizante, A Lenda de Candyman (2021) nos presenteia com uma continuação direta do filme Candyman dos anos 90, nas mãos de Nia DaCosta a sequência honra o original por recontar sua história com muito mais profundidade e enriquecimento da lenda.
Yahya Abdul-Mateen II (Nós, Aquaman, Watchmen) é nosso personagem principal, Anthony McCoy vive com sua namorada Brianna Cartwright (Teyonah Parris: WandaVision, If Beale Street Could Talk, The Marvels) em Cabrini-Green, bairro de Chicago que havia sido gentrificado, e é um artista visual passando por um bloqueio criativo, pressionado para lançar uma nova arte para uma próxima exposição.
Em um jantar para conhecer seu novo cunhado, Troy Cartwright (estrelado por Nathan Stewart-Jarrett de Misfits), conta a lenda do tal Candyman que supostamente se passou exatamente naquela mesma área.
Apesar da história contada por Troy ser distorcida dos eventos reais (segundo o filme de ‘92), é o suficiente para intrigar a mente do artista em busca de inspirações, Anthony mergulha em investigações dos acontecimentos assim achando “a arte que é destinado a fazer”.

E rápido assim, sendo guiados por carismáticos personagens de apoio, entramos de vez na lenda, de maneira até mais natural e interessante comparado ao primeiro filme.
A cinematografia nos envolve e deixa os espectadores presos, com o gancho do nosso “vilão” agarrado no colarinho de nossas roupas. Sinto que há uma certa magia diferente em filmes dos anos 80 ou 90, ou até décadas de 40 e 50, vindo da qualidade das câmeras e como na época esse era o melhor e mais bonito, trazendo assim uma sensação de assistir uma pintura nostálgica.
Esse filme é como uma pintura mais adequada de nossa realidade atual. A renovação perfeita também é vista em como a narrativa racial-social foi aperfeiçoada, tirando clichês como a tropa de white savior.
O roteiro é impecável, apresenta personagens incríveis e profundos, também nos ajuda a entender o que é gentrificação rápida e claramente: nos Estados Unidos, os brancos no poder constroem lugares para comunidades negras morarem, só para depois relocar todas essas famílias para qualquer outro lugar, enquanto o bairro passa por inovações que não serão aproveitadas pelos que moravam lá originalmente, e sim a burguesia branca.
SOBRE GENTRIFICAÇÃO: COMO ACONTECE E EXEMPLOS
O processo de gentrificação é quando a periferia é transformada em um bairro mais chique e que traz renda. Periferias sofrem por descaso do governo, falta de saneamento básico, além de serem espaços sem planejamento, fazendo com que essa área seja desvalorizada.
Por conta da descentralização, essas áreas atraem mais comércios e obras do governo, impactando culturalmente e financeiramente. Conforme os aluguéis aumentam, as pessoas que moravam ali anteriormente não conseguem pagar pelo aumento de preço. Diferente do processo de revitalização, a gentrificação não se importa com a vida dos que moram ali.
Alguns exemplos de gentrificação no Brasil é o Itaquerão, arena do Corinthians localizado na Zona Leste de SP, a Construção do Vale do Silício na Baía de São Francisco, as obras para as cidades olímpicas do Rio de Janeiro e Projeto Novo Recife no Cais José Estelita, em Recife.
Diversos projetos e pesquisas também abordam a concessão do centro de São Paul para urbanização, como a região da Luz e da Santa Ifigênia.
O suspense construído por Nia é assustador em várias camadas, o terror é presente em uma incrível mixagem de som, em cenas com leves jump scares que não soam forçados, na violência visceral das mortes (criativas e novas!), mesmo as que não vemos o personagem realmente ser machucado, e pelo forte conteúdo sobre racismo.
Com seus próprios toques no filme produzido pelo aclamado Jordan Peele, Nia DaCosta certamente deve ter seu nome lembrado e aclamado em premiações desse ano, além de com certeza ter deixado sua marca definitiva no cinema com seu segundo filme, assim nos deixando muito animados para saber o que a diretora vai fazer no seu próximo longa The Marvels, sequência de Capitã Marvel datada para 2022.

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