“Quando as sombras se erguem, a luz há de acender. Quando sangue é derramado, o chamado do sangue ouvirei. Pelo Rei e sua Távola, pela Ordem e seu poder. Pelos juramentos eternos, a linhagem é a lei”
O que a lenda do Rei Arthur tem a ver com uma garota negra da Carolina do Norte? Bom, os LENDÁRIOS explicam.
Brianne Mathews, uma jovem negra de 16 anos, que desde a primeira página sofre com o luto, pela recente morte de sua mãe num acidente de carro. A maior razão pela qual Bree sucumbe ao sentimento é uma briga, a última relação que mãe e filha tiveram juntas, o medo de a mãe ter morrido com raiva dela, a torna cada vez mais triste.
Bree entra para a pré faculdade na UCN (Universidade da Carolina do Norte), um programa que prepara jovens em potencial antes da faculdade. Mathews é brilhante, mas a ideia de estar ali é mais como uma fuga da presença da mãe refletida em cada canto de sua casa. Aqui, a autora, Tracy Deonn, escolheu propositalmente para a personagem os sintomas de luto traumático e transtorno do luto complexo persistente, ela revela
“Escrevi Lendários em parte porque espero aumentar a conscientização sobre essas condições às vezes comórbidas, sobretudo quando ocorrem devido à perda de um dos pais e/ ou quando ocorrem em jovens. (…) também aborda o trauma intergeracional vivido por descendentes de pessoas escravizadas, as formas pelas quais o trauma pode se manifestar entre pais e filhos e os legados de trauma racial, opressão e resiliência.”.
Logo no primeiro dia, Bree e sua melhor amiga Alice quebram as regras, indo a uma festa clandestina durante a noite e Matt (como Alice a chama) presencia um evento inexplicável, vê um Demônio. Mas é ali que tudo começa.
Como punição, Bree e Alice recebem um tutor, o de Bree é Nicholas Davis, o Nick. Contra vontade, nem se apresentam de modo decente e novamente o evento acontece, Bree descobre que Nick é um Juramentado e faz parte daquilo também. A verdade? Crias Sombrias (demônios) atravessam um portal em ameaça aos Primavidas (humanos). Os cavaleiros da Távola Redonda se formam em uma associação chamada Ordem, e são designados para proteger os humanos, já que Crias Sombrias são invisíveis para nós.
A relação entre Nick e Bree se estreitam, pois ela vê tudo o que acontece. Ferida, Davis a leva para Ordem onde pode se recuperar com a medicina de lá, com magia. Nick na verdade é o herdeiro do Rei Arthur, mas que rejeitou publicamente seu título e estava afastado da Ordem há muito tempo. Naquela noite memórias de Bree do dia do acidente de sua mãe retornam, e se lembra de ter visto a magia manipulada pela Ordem.
Em conflito consigo, do que presenciou e do que se recordou, Bree é levada a acreditar que na verdade sua mãe foi assassinada pois sabia deste “mundo”. Em reação ao seu luto, Bree convence Nick ajudá-la a descobrir a verdade e a chance de se aproximar dos fatos é através da Seleção. Naquele momento os Herdeiros (filhos dos Cavaleiros da Távola) iniciavam seus Pajens (como um Padawan e seu Jedi), para que no fim da provação todos se enfrentem em Torneio e os vencedores designados como Escudeiros.
Nick escolhe Bree, a Primavida novata negra. O rebuliço desta escolha se mistura com o inesperado retorno do reizinho. Como se não bastasse o luto, a recente discussão com Alice e o gelo no pai, Bree entra em uma sociedade tradicional de 15 séculos sendo a “encruzilhada de dois erros”. Ofensas recorrentes acontecem, mas duas são muito marcadas: que está ali por ser cotista e/ou oferecer serviços sexuais para enfeitiçar o Herdeiro Real.
Nossa querida Matt tem um inimigo em especial, Selwyn Kane, o Sel um Mago Real, o mais poderoso de sua geração. As piadinhas preconceituosas são pífias para ele, Sel tem uma grande dúvida sobre realmente é Brianne e quais suas intenções.
Em suas investigações sobre a morte de sua mãe, Bree descobre muito mais do que imaginou. Descobre quem é. Seus poderes. Seus ancestrais, sela uma união com eles. A real razão da Ordem. A morte. O amor e a amizade. Isso tudo é libertador em diversos aspectos, como a quebra do luto que a destruía e o símbolo que a superioridade de seus poderes advindos da Arte da Raiz, personificados em uma mulher negra.
O livro já promete ser uma saga, e com as pontas deixadas por Deonn as possibilidades são enormes, com mistérios envolvidos em mais mistérios, magia, lendas e diversidade.
Personagens

Partindo do trio de protagonistas. Bree é uma mulher negra, inspirada em Bonnie, de The Vampire Diaries e Katara, de Avatar. Nick, o Lendário Herdeiro de Arthur é um garoto de 17 anos, loiro, de olhos azuis, à la Steve Rogers e Raleigh (Círculo de Fogo). Fechando com enigmático Mago Sel, que vai um pouco na contramão da descrição de magos que temos por aí – geralmente velhos de barba e cabelos brancos. Em seus 18 anos, sua maior inspiração veio da mistura de Sherlock Holmes, com Damon Salvatore e Loki, portanto impossível não se apaixonar. Além dessas características e seus poderes, Selwyn é bissexual.
Greer, é uma pessoa não binárie. Sendo tratade por linguagem neutra, é uma das pessoas que se aproxima e cria uma conexão de imediato com Brianne pelo sentimento compartilhado de rejeição. Sar e Tor são um casal lésbico e Willian é um estudante de medicina, gay (mas no fim fica subentendido se é, na verdade, bi).
Uso de Referências
Uma das grandes características desta leitura é o uso de referências é um marco muito presente, desde os diálogos às características dos personagens, como descrito anteriormente. Deonn retira isso dela mesma, uma fangirl de carteirinha. Além de toda mitologia envolvendo a história de Arthur, a Távola Redonda e a Excalibur, Tracy se inspira na Arte da Raiz
“Além de recorrer à minha própria vida para criar o sistema mágico fictício da Arte de Raiz, me inspirei na história afro-americana e nas tradições espirituais. Em particular, concentrei-me em “trabalho de raiz”, também conhecido como hoodoo ou conjuração”.
E completa, que utilizou da mistura da prática da arte em diversas comunidades, focando na reverência aos ancestrais e comunhão, uso ritual de materiais orgânicos, medicina naturopática e cura, e temas de proteção. A escolha do termo raiz também foi proposital, como o recorrente uso na música negra, na cultura pop e no cinema, como vemos, por exemplo, no filme Pantera Negra.
Pontos negativos
No início, ao tratar a amizade entre Bree e Alice, as manias que as amigas têm uma com a outra são legais, demonstra uma intimidade verdadeira, porém a repetição se torna cansativa e desnecessária.
Há alguns erros de tradução e revisão que podem ser prejudiciais na narrativa, principalmente nas cenas em que Greer está presente.
LENDÁRIOS desde a estreia tende a ser uma saga promissora e seu início está bem próximo: o livro dois, com o título BLOODMARKED (ainda sem título adaptado no Brasil) confirmado está programado para lançamento em 2022. Será que já teremos o Camlann ou devemos esperar por mais? Ansiosos?
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