Saltburn é a mais recente produção da cineasta Emerald Fennel, o segundo na sua carreira como diretora, que retrata a amizade obsessiva de Oliver com Félix. Oliver (Barry Keoghan) é um solitário e tímido rapaz muito inteligente que entra para uma universidade como bolsista e mergulha no mundo esnobe da alta sociedade, onde luta para ser aceito dentro de padrões que fogem do seu estilo de vida. Félix (Jacob Elordi) já é oposto disso: um garanhão que chama atenção por onde passa, carismático que só quer aproveitar a vida e acaba construindo uma amizade com Oliver que se torna uma obsessão.

O filme chamou atenção por uma fatídica cena envolvendo uma banheira, além de toda a conotação sexual que envolve até nudez frontal do protagonista. Pois bem, talvez para um público mais sensível ou desacostumado com cenas assim, pode soar polêmico, mas honestamente não me impressionou. Pelo contrário, achei que pela repercussão do filme, Saltburn seria daqueles bem controversos que divide opiniões, carregado de cenas fortes e difíceis de assistir. Para minha surpresa, é o completo oposto. É um filme totalmente normal com uma cena nojenta aqui, outra acolá, mas nada perverso como fizeram parecer.
Contudo, Saltburn constrói uma narrativa erótica e satírica envolvendo a futilidade da alta sociedade e disparidade social. Félix é um típico garoto rico que consegue tudo e qualquer pessoa que ele quiser, mas ainda assim tem um baita carisma que carrega o personagem através das situações inusitadas, uma pena que Jacob Elordi é um ator ainda apático para conquistar o público nesse sentido. Em contrapartida, Barry Keoghan sem dúvida carrega uma composição profunda de um personagem perturbado, cheio de camadas cuja sanidade aos poucos vai sendo questionada conforme a história se molda.

A cinematografia de Linus Sandgren carrega uma paleta de cores quente que acentua o crescimento da tensão sexual entre Oliver e Félix. O erotismo vindo de uma visão feminina traz a sexualização de corpos masculinos sem, necessariamente, vulgariza-los. Esse mesmo erotismo é o que, aos poucos, liberta Oliver de suas amarras, mostrando as múltiplas facetas do personagem e deixando ao público um questionamento simples: quem é o vilão da história? Quem devemos odiar?
Apesar das boas intenções da obra ao abordar críticas ao capitalismo moderno e a futilidade da vida da alta sociedade, Fennel peca em seu terceiro ato quando se estende demais em suas explicações acerca das intenções de Oliver. Mesmo que o final não tenha estragado a minha experiência, certamente diminuiu o potencial do longa e me deixou com a sensação de um filme simplesmente bom. Ainda que a cinematografia carregue uma estética chamativa, onde cada frame se assemelha a uma pintura, o conjunto da obra não a torna grandiosa e muito menos revolucionário. É um filme bom sobre uma boa sátira com um bom toque erótico.
Saltburn é uma história sobre ganância e elegância, que traz mensagens sobre a sociedade em seu subtexto. Rosamund Pike, Ewan Mitchell e Richard E. Grant são alguns dos nomes do elenco que entregam atuações formidáveis. O filme está disponível no Prime Video.

