Não é novidade que nós vivemos em uma sociedade onde por muito tempo a mulher era vista como algo que existia em função do homem (dona de casa, mãe, etc), e no cinema isso não se mostrou diferente. O espaço de protagonismo feminino foi algo muito difícil de ser conquistado, e que, quando era dado, este se mostrava fadado a sexualização masculina, em fazer personagens em papéis centrais que agradassem o imaginário dos homens.
Os filmes do cenário Hollywoodiano tiveram forte influência para a visão da mulher na sociedade, que inconscientemente as veem, até os dias atuais, como apenas um ser que tem a capacidade de manipulação através da sexualidade. Um nome muito importante para a história da representação feminina no cinema é a Theda Bara. Tida como a primeira “mulher fatal”, Theda ficou bastante conhecida por interpretar personagens sensuais, tendo como traços marcantes seus fortes olhos pintados de preto e as pequenas peças que ela usava para cobrir os seios. Tudo isso durante a época do cinema mudo!

Ela foi a primeira atriz de cinema a passar do anonimato para o estrelato da noite para o dia, e claro, isso trouxe inúmeros boatos sobre sua vida pessoal e profissional. Os publicistas inventaram cláusulas de um contrato que nunca existiu, prevendo que ela só poderia ser transportada em limousines brancas com as cortinas cerradas e criados de libré “núbios” em serviço, teria que conceder entrevistas em salas escurecidas e perfumadas, não poderia se casar nem aparecer em público com um acompanhante. Sua vampe, sempre fotografada ao lado de um esqueleto, de uma caveira ou de cobras, representava uma mulher “não exatamente humana”: uma mulher que seduzia homens respeitáveis por mera diversão, levando-os à ruína e, quase sempre, à morte – o tipo de mulher que o espectador de cinema nunca tinha visto antes.
O tempo foi passando, e durante a década de 30 e a década de 60, foram produzidos vários filmes em Hollywood que retratavam a mulher sob um olhar que satisfazia os desejos masculinos. Era trazer a mulher ou como um objeto sexual a poder do protagonista masculino, ou como um objeto de completa contemplação. Um dos maiores exemplos dessa visão sexualizada do papel da mulher no universo cinematográfico é a Marilyn Monroe. Em sua primeira aparição, no filme The River of No Return, é criada uma imagem erotizada da atriz, funcionando como elemento de conexão entre o olhar do personagem masculino e do espectador, colocando-os dentro da mesma sistemática de um espetáculo erótico. É mostrada uma personagem feminina que tem como principais características o glamour e a elegância, atraindo o protagonista e posteriormente se apaixonando pelo mesmo, onde ela entra no papel de propriedade do protagonista masculino e perde seus principais “atrativos”.

O tempo foi passando e a idealização feminina foi ganhando novas formas. Além de claro, ainda existirem personagens sexualidadas com fim de atrair publico através do imaginário masculino, temos também uma “nova modalidade” de idealização: as chamadas Manic Pixie Dream Girls. As MPDG são aquelas personagens femininas meigas, com ótimo gosto musical, e com pequenos defeitos, o que as torna ainda mais adoráveis. Tudo isso por idealizações masculina, que muitas vezes nem correspondem o que elas são de verdade, trazendo histórias em que o protagonista masculino se frustra pelas suas próprias idealizações, fazendo parecer que foi a culpa foi da garota. O mais comum é que as Maniac Pixie Dream Girls não tenham uma história própria, existindo como um suporte para o desenvolvimento emocional do personagem principal. O exemplo clássico de MPDG é a personagem Summer (Zoe Deschanel) de 500 Days of Summer.

Hoje já podemos ver a construção de mulheres fortes no cinema, representando seu protagonismo não por sua aparência, mas sim por suas realizações e seus feitos de coragem. Porém a problemática da idealização ainda é sim presente, e por conta disso devemos sempre ter uma visão crítica de como o papel da mulher está sendo representado na sociedade, e como estamos inspirando meninas desde cedo a serem o que elas quiserem, quebrando padrões e idealizações.
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