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Sexualização Feminina nas HQs

A sexualização de personagens femininas, principalmente nas HQs, não é nenhuma novidade. O assunto já gerou inúmeras discussões ao longo dos anos e mesmo assim, ainda existem aqueles que insistem em dizer que a questão toda é um exagero. Mas será mesmo?

No imaginário coletivo, super-heroínas são comumente associadas a corpos perfeitos: seios e bunda super avantajados, cintura fina; uniformes hiperssexualizados: roupas apertadas e extremamente decotadas, trajes que as deixam quase seminuas, etc. Enfim, elementos que não fazem o menor sentido para combate, mas ainda assim, fazem parte da caracterização dessas personagens.

Não é difícil entender o porquê disso. Sabemos que, tradicionalmente, esses conteúdos não só foram voltados para homens, como também foram escritos pelos mesmos. (Mesmo que hoje aproximadamente 50% do público seja feminino). Sendo assim, a representação feminina foi inúmeras vezes associada a um objetivo: ser objeto do desejo sexual masculino.

Casos polêmicos como o da capa da Mulher-Aranha (desenhada por Milo Marana), em que a pose da personagem é super erotizada, e a da Invencible Iron Man #1, em que Riri Williams, uma adolescente de 15 anos é retratada com traços sensuais, são exemplos dessa cultura.

Uma forma bem simples de refletir sobre a diferença de tratamento que se dá às figuras femininas e as masculinas é invertendo a posição destes. Como crítica à representações sexistas, em 2012 surgiu a The Hawkeye Initiative*, uma página de ilustrações satíricas:

Muitos defendem os artistas, alegando que é “questão de estilo” mas fica evidente que essa é apenas mais uma das justificativas utilizadas para continuar a normatizando a objetificação do corpo feminino.

Além disso, a problemática não está apenas no quesito visual das personagens. Se sua imagem é a demonstração mais clara desse tipo de mentalidade machista, ainda há inúmeros outros recursos narrativos, menos visíveis, que reafirmam a objetificação e submissão destas. Infelizmente, não é preciso se esforçar muito para lembrar de mulheres que foram reduzidas a objetos cenográficos ou a par romântico para o desenvolvimento de super-heróis nas HQs. Em 1999, Gail Simone chegou a criar uma página*, chamada Mulheres nos Refrigeradores, com uma lista (surpreendente!) de personagens femininas que em algum momento foram estupradas, mutiladas, torturadas, sequestradas, mortas, esquartejadas e postas em refrigeradores; a iniciativa nasceu como uma forma da autora expor como esses acontecimentos são comuns nas trajetórias femininas e tentar entender/questionar os motivos para isso.

Todos os pontos abordados esbarram, mais uma vez, na questão da representatividade. Afinal, como esperar que meninas realmente se identifiquem com essas personagens/obras se os padrões estéticos são inalcançáveis e seu protagonismo é rebaixado?

Só em 2016, por exemplo, o público feminino compunha aproximadamente 50% do leitores de HQs da Marvel Comics*. Mas quantos títulos hoje são protagonizados por mulheres e quantos desses também escritos por mulheres? Kamala Khan, America Chavez e Capitã Marvel são alguns exemplos dos poucos títulos.

Uma pesquisa* revelou que durante o último semestre de 2018, a DC Comics contou com 17,2% de mulheres no time de criação, enquanto a Marvel contou com 16,3%. Números ainda muito baixos se comparados a indústria como um todo.

Sabemos que representatividade importa, e que esse papo de “é só um quadrinho” é besteira. Qualquer obra é influenciada pelo imaginário de quem a criou, assim como comportamentos podem ser validados ou não a partir do que se é consumido. Não faz nem tanto tempo que Brie Larson (a Capitã Marvel do MCU) foi atacada na internet, novamente, por conta de seu corpo. O argumento? “Não tem bunda e a Capitã Marvel dos quadrinhos tem”.

Em universo em que o imaginário masculino ainda predomina, é preciso valorizar mais e mais o espaço das mulheres, sejam elas quadrinistas ou leitoras. E isso vai além de bater de frente e questionar quando algo sexista está sendo veiculado, mas também enaltecer o trabalho de quem está fazendo a diferença, seja em uma grande produtora ou não. A mudança pode parecer lenta mas mesmo hoje já podemos observar os frutos das pequenas lutas diárias: nós, mulheres, temos transformado cada vez mais a indústria da cultura pop.

Texto por Ericka Lourenço

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