Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 1946 em Minas Gerais, mais especificamente em Belo Horizonte. Veio para o Rio de Janeiro em 1973, onde formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Literatura pela PUC-RJ, também lecionou na rede pública de ensino durante muito tempo. Em sua tese de mestrado, defendeu : Literatura Negra- uma poética da nossa afro-brasilidade. Possui também doutorado em Literatura Comparada através da Universidade Federal Fluminense- UFF.
Vinda de família pobre, Conceição Evaristo também relata em seu romance Becos da Memória em que trata com seu característico realismo poético, o processo despejo de uma comunidade favelada, lançado em 2006.
Todos os seus trabalhos, trazem sua ancestralidade de maneira crítica e aborda a afro-brasilidade como tema principal. Além disso, protagoniza a figura feminina como símbolo de resistência à pobreza e discriminação.

Seu engajamento iniciou-se em 1980 por meio do grupo Quilombhoje, responsável por sua estreia na carreira literária, onde lançou sua obra “Ponciá Vicêncio”, publicada na série Cadernos Negros apenas em 1990. A obra, trata de temas como discriminação de raça, gênero e classe, sendo abordada em vestibulares de todo país, vista como leitura aclamada pelo público e pela crítica.
Com o sucesso de publicações de poemas e contos, Conceição Evaristo também produziu obras de ficção e ensaios, sempre muito flexível em seus escritos. E quando seus poemas e antologias ganham maior visibilidade, deixam de serem publicados apenas nos Cadernos Negros e passam a integrar o volume Poemas de recordação e outros movimentos.
Suas obras ganharam reconhecimento internacional, sendo a versão de Ponciá Vicêncio também publicada em inglês pela Hot Publications, o que levou Conceição a ministrar diversas palestras em universidades norte-americanas. Possui títulos também traduzidos para o Francês, e participou de algumas publicações na Alemanha e Inglaterra.
Com seu grande destaque na literatura Afro-Brasileira, a escritora também concorreu à um lugar na Academia Brasileira de Letras, possuindo forte campanha para tal. Porém, não conseguiu o número suficiente de votos e perdeu a eleição para o escritor Cacá Diegues. Sobre o resultado, a mesma disse em entrevista ao Intercept :
“A ABL não está fora da dinâmica social de relações sociais e raciais do nosso país. Na verdade, essa formação da academia é uma formação de quase todas instituições brasileiras. A falta de representatividade se dá em todo lugar.”
A verdade é que, uma instituição como a ABL, engessada ainda pelos valores europeus da Academia Francesa, não merece uma escritora grandiosa como Conceição Evaristo. E apesar de seu principal fundador – Machado de Assis- ser um escritor negro, a academia em si possui pouca representatividade nos dias atuais.

Inspirada em Carolina Maria de Jesus, a mãe de Conceição Evaristo escreveu diários sobre a vida nas favelas de Belo Horizonte, a miséria do cotidiano vivido e enfrentado por ela. Todos os filhos- incluindo Conceição- estudaram em escolas públicas, sendo incentivados sempre ao hábito da leitura e da escrita constante. Redações como “ Onde passei minhas férias” ou “ Minha festa de Aniversário” costumavam ser os trabalhos favoritos da autora em sua época de estudante, pois podia mascarar em uma inocente ficção toda limitação do espaço físico e da pobreza que vivia, permitindo-se sonhar com uma realidade distante da sua.

Seu último livro publicado até então : Olhos D’água (2014), traz contos emocionantes e bastante reflexivos. O texto que leva o nome do livro, retrata a vida de uma mãe solteira, narrada por uma de suas sete filhas. Além de gerar empatia no leitor, o conto também não deixa de contemplar as características principais da autora, assim como todo o livro. Uma leitura necessária, uma obra reverente, assim como toda sua bibliografia.

Deixe um comentário