Há anos, pessoas de dentro e de fora da indústria de cinema vem apontando a falta de diversidade em filmes, de frente e por trás das câmeras, mas especialmente em premiações, onde maioria dos prestigiados pelos críticos são, como vocês já devem imaginar, homens brancos, héteros e se tiver envolvido em algum caso de abuso sexual, só se encaixa melhor nesse ambiente quase totalmente inacessível á pessoas que não se encaixam nessas “categorias”.
A primeira mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção foi Katheryn Bigelow, em 2010, com Guerra ao Terror. Até então, nenhuma outra mulher ganhou um prêmio nessa categoria, inclusive somente UMA, em nove anos foi indicada para melhor diretora, Greta Gerwig em 2018, assim se tornando a quinta mulher a ser indicada nessa categoria em toda a história do Oscar. E em todos os 92 anos de premiação, dá pra contar nos dedos quantas mulheres negras ganharam prêmios por atuação (5 nacategoria de Atriz Coadjuvante: Jennifer Hudson, Mo’nique, Octavia Spencer, Lupita Nyong’o e Viola Davis, e somente 1 na categoria de Atriz Principal, Halle Berry). Fora de categorias de atuação, somente uma mulher negra ganhou um prêmio: Irene Cara, que foi premiada em 1984 por melhor canção. Fora a isso, outas mulheres negras foram indicadas a mais algumas categorias nos últimos anos, porém nenhuma levou a estatueta de ouro.
Em 2002, Halle Berry ao ganhar disse: “Esse momento é para Dorothy Dandridge, Lena Horne, Diahann Carroll. É para as mulheres que estiveram ao meu lado, Jada Pinkett, Angela Basset, Vivica Fox, e é para todas as mulheres de cor, sem nome e sem rosto, que agora têm uma chance. Porque hoje a porta foi aberta.”
Ao correr do anos dos anos acho que acreditamos, assim como ela, que dali algo de verdade mudaria, que uma mudança começaria a realmente trazer mais mulheres , norte americanas mas também de diversas nacionalidades e culturas para esses espaços de prestígio e reconhecimento global. Porém hoje, em 2020, dia que descobrimos os indicados ao Oscar desse ano, vemos que se houve algum tipo de progresso, foi mínimo.
Nas categorias de atuação, Cynthia Erivo foi indicada pelo seu papel em Harriet, porém Lupita Nyong’o não ganhou nenhum reconhecimento por seu papel em Nós, do Jordan Peele, onde não fez o papel de uma escrava. Uma das discussões na mesa agora está sendo: por que mulheres negras só são indicadas por suas atuações quando seus papéis são de escravas?
Diretoras com grandes aclamações esse ano foram: Lulu Wang, que fez The Farewell, que fala sobre uma família chinesa americana, Céline Sciamma, que fez o longa Retrato de Uma Jovem Em Chamas que infelizmente não foi escolhido pela França para concorrer a Melhor Filme Internacional, e claro, Greta Gerwig, pela sua adaptação de Adoravéis Mulheres. Elas foram indicadas em outras premiações como BAFTAS, Critics’ Choice Award, Independent Spirit, entre outras.
Porém, nenhuma delas foi indicada para a categoria de melhor direção. Mesmo Adoráveis Mulheres que ganhou várias indicações, dentre elas: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Atriz Coadjuvante (Florence Pugh) e até mesmo Melhor Filme. E ainda assim, a Academia parece se recusar a querer indicar uma mulher como Melhor Diretora.
Ao invés de Greta Gerwig, os indicados para o prêmio foram: Marin Scorsese, por O Irlândes, Todd Philips por Joker, Sam Mendes com 1917, Quentin Tarantino por Era Uma Vez Em… Hollywood e Bong Joon Ho com Parasita. O único homem não branco dentre eles é Bong Joon Ho, diretor sul coreano que fez um dos melhores filmes do ano (se não o melhor).
Mas ainda assim, mulheres continuam sendo completamente ignoradas nessa categoria especialmente, e usar a desculpa que “mulheres não dirigiram nada (bom) essse ano” é além de esfarrapada, uma mentira muito grande. Além dos filmes e nomes já citados, outras mulheres também devem ser lembradas em 2019, como:
– Marielle Heller, diretora de Um Lindo Dia na Vizinhança. (Tom Hanks, Matthew Rhys)
– Alma Har’el, diretora de Honey Boy. (Shia LaBeouf, Lucas Hedges, Noah Jupe)
– Lorene Scarfaria, diretora de As Golpistas (Constance Wu, Jennifer Lopez)
– Mati Diop, diretora de Atlantics (Mame Bineta Sane, Ibrahima Traore)
– Joanna Hogg, diretora de The Souvenir (Honor Swinton Byrne, Tom Burke, Tilda Swinton)
Algumas pessoas discutem se uma criação de uma categoria somente para mulheres diretoras seria uma boa ideia, porém as respostas e pensamentos em acordo a isso são muito divisores.
É uma situação muito díficil, onde vemos que o progresso em que sempre achamos que estamos fazendo na verdade não existe, ou não é tão grande como deveria ser, como parece ser. Florence Pugh disse, sobre Greta não ganhar uma indicação: “Ela literalmente fez um filme sobre isso. Ela fez um filme sobre mulheres trabalhando e suas relações com dinheiro e relação com trabalhar em um mundo dominado por homens. Isso é literalmente o que Adoráveis Mulheres é sobre, então [Greta não ser indicada] só mostra o quão importante é – por que está acontecendo.”
Ainda há imenso progresso a ser feito, precisamos de mais oportunidades para mulheres e que mulheres querendo trabalhar nesse ramo não desistam. Apesar de não ser uma situação boa, podemos aproveitar e nos orgulhar de algumas coisas, como por exemplo Democracia em Vertigem sendo indicado para melhor documentário. Não somente foi dirigido por uma mulher, Petra Costa é brasileira e fala sobre a situação política do país de uns anos até hoje, com Bolsonaro sendo eleito e o risco que ele é a sociedade. Devemos agora nos orgulhar e torcer por nosso país sendo representado por esse importante documentário.
Democracia em Vertigem está disponível na Netflix em todo lugar.
Nesse ano de 2020, devemos apoiar, divulgar, e prestigiar o trabalho de mulheres no cinema, sejam artistas independentes ou de Hollywood. Representação e diversidade é algo que precisamos atingir e não podemos desistir de ver mudança na indústria cinematográfica.
Texto por Eduarda Marina
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