Crítica | Lovecraft County

Mais uma produção da HBO chega ao fim se consagrando um sucesso absoluto. ‘Lovecraft Country’ desafia o gênero do horror ao propor ao telespectador a seguinte questão: é pior enfrentar monstros retirados dos livros de H. P. Lovecraft ou atravessar os Estados Unidos no meio da segregação racial?

Comandada por Misha Green, a adaptação do livro escrito por Matt Ruff acompanha a jornada de Atticus Turner (Jonathan Majors), um jovem negro e veterano da guerra na China, que precisa viajar pelo país segregacionista na década de 1950 para tentar encontrar o pai desaparecido. Acompanhado de seu tio George (Courtney B. Vance) e Letitia Lewis (Jurnee Smollett-Bell), o que começa como uma típica roadtrip de Chicago para Ardham se transforma em um pesadelo quando o ódio e violência em meio à opressão racial se tornam obstáculos no meio do caminho.

Produzida pelo diretor vencedor do Oscar por Corra!, Jordan Peele, e pelo cineasta que comandou a última trilogia de Star Wars, J.J. Abrams, a série encontra a dupla ideal para criar a dose perfeita de terror, fantasia e ficção científica. Enquanto estranhas mortes acontecem, criaturas assustadoras rondam as florestas e espíritos vingativos atormenta a vizinhança, os episódios dão espaço para todos os personagens contarem suas próprias aventuras.

Com o sobrenatural sendo o ponto chave da história, ‘Lovecraft Country’ mostra a magia como mais uma das armas de destruição dos brancos contra os negros naquela época. Se uma mulher negra se transformar numa mulher branca e transformar essa “poção polissuco” regada de privilégios em um passe livre para a vingança, que tipo de atrocidades os policiais fariam se tivessem em mãos esse tipo poder para torturar ainda mais os negros?

Para aprofundar ainda mais essas questões, a HBO utilizou mais uma vez da história norte-americana para compor o contexto social da trama e a ancestralidade dos personagens.

Assim como ‘Watchmen’, os protagonistas vivenciam a noite do Massacre de Tulsa, Oklahoma, no 31 de maio e 1º de junho de 1921, quando os moradores brancos se uniram para atacar os negros, suas residências e comércios.

Há também referências a Lei Jim Crow, o Livro Verde que usado pela comunidade negra para viajar em segurança e que também já apareceu no – não tão memorável – Green Book: O Guia. De forma sutil, o primeiro jogador negro da Major League Baseball, Jackie Robinson, surge para levar uma discussão sobre representatividade e o adolescente Emmett Till, brutalmente assassinado em 1955, se torna o melhor amigo de Dee (Jada Harris).

Fora todas atuações incríveis, a parte técnica merece seu devido reconhecimento. A fotografia repleta de cores, a trilha sonora que transita de Nina Simone, Marilyn Manson, Leon Bridges e Cardi B (e destaque para Jurnee e Wunmi Mosaku cantando juntas), figurinos entre as décadas e os visuais afrofuturistas do episódio ‘I Am’ fazem a obra ser ainda mais extraordinária.

‘Lovecraft Country’ encerrou sua primeira temporada no último domingo (18), de forma dolorosa mas sem se apropriar de uma narrativa apenas para chocar o telespectador. Apesar de deixar pontas soltas para uma possível continuação, o arco principal foi encerrado de forma eficaz caso a emissora deseje seguir a mesma linha de ‘Watchmen’, e entregar uma minissérie que já é uma das favoritas para o Emmy 2021.

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