Infelizmente, Natasha Romanoff não é a primeira super-heroína a ser hipersexualizada. Mas talvez essa discussão tenha aberto as portas para mudanças – eu, pelo menos, espero que a indústria esteja caminhando para isso.
Até porque o problema aqui não é (só) o uniforme colado ao corpo, mas sim o retrato que a Marvel criou dela.
A Viúva Negra estreou no MCU em Homem de Ferro 2 (2010) e, segundo Scarlett Johansson, ela foi completamente hipersexualizada. Os closes muito próximos ao corpo nas cenas de luta e acrobacias, e o fato que Tony Stark (Robert Downey Jr.) inclusive a chama de “pedaço de carne”, são apenas exemplos que provam isso.
Enquanto [‘Homem de Ferro 2’] foi muito divertido e teve grandes momentos nele, a personagem foi tão sexualizada, sabe? É como se ela fosse um pedaço de algo, como uma posse ou qualquer coisa. Um pedaço de carne, realmente”, disse a atriz ao site Collider. “Talvez, naquela época, realmente parecesse um elogio. Sabe o que eu quero dizer? Porque o jeito como eu pensava era diferente.”

Johansson explicou que a personagem evoluiu muito desde seu primeiro retrato como heroína até chegar ao filme solo, que estreia dia 9 de julho nos cinemas e no Disney+. As mudanças sociais que aconteceram nesses mais de 10 anos e que deram mais destaque para a força feminina foram forte influência, e a própria atriz também mudou com a idade e após se tornar mãe.
“Tenho um entendimento sobre mim mesma muito diferente. Como mulher, estou em um lugar diferente da minha vida”, continuou. Ela também explicou que passou por um processo de autoaceitação, e que isso foi um dos fatores que a ajudou a se distanciar da hipersexualização.
Ela não é a única
Um estudo do Instituto Geena Davis sobre Gênero na Mídia em parceria com a ONU Mulheres e a Fundação Rockefeller, analisou os filmes de maior bilheteria nos países mais lucrativos, incluindo o Brasil, entre os anos de 2006 e 2009, para entender o estereótipo feminino no cinema.
Os resultados indicaram que, quando as mulheres apareciam em cena, elas tinham quatro vezes mais chances de serem expostas de uma forma sexual, com roupas curtas e decotadas, corpos com cintura fina e seios grandes.
Isso não é difícil de encontrar na prática dentro e fora do cinema – e com exemplos mais recentes. Talvez as lembranças das personagens femininas de Mortal Kombat ou de Angelina Jolie como Lara Croft não estejam tão frescas, mas você com certeza se recorda da Arlequina em Esquadrão Suicida (2016).

A personagem foi retratada de forma hipersexualizada, objetificada e submissa ao Coringa. Na época, Margot Robbie chegou a afirmar em entrevistas que não gostava das roupas que precisou usar no filme e se sentia insegura sobre seu corpo.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020) serviu para corrigir esses alguns erros e tenta fazer jus à Arlequina. Depois da “queda”, ela buscou pela emancipação como o caminho para o seu empoderamento.

Apesar dessas mudanças fazerem diferença, ainda falta muito para que as jornadas das super-heroínas (e vilãs) mostrem mais da força feminina e menos de seus corpos. É uma discussão intensa que vai além dos produtores de cinema e chega até o público.
Muitos homens fãs das HQs, por exemplo, ainda defendem que as mulheres sejam retratadas nos filmes como estão nos quadrinhos – em um padrão praticamente impossível, diga-se de passagem. Ainda assim, estarmos abertos para o debate já é um começo.
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