Ano após ano vemos sempre mais do mesmo em 8 de março: Campanhas super femininas na televisão, rosas sendo distribuídas em todos os lugares, os mais diversos tipos de chocolate (alguns até em formato de rosas e corações), e o tradicional “Feliz dia das mulheres”.
Besteira, o real sentido do dia 8 de março foi perdido, transformado em mais uma data comercial, mas estamos aqui para te relembrar e como a música tem o poder de dizer muita coisa, selecionamos 7 que caminham lado a lado com o verdadeiro sentido do dia das mulheres e fortalecer essa luta.
8 de março de 1911
Em 25 de março de 1911, houve um incêndio na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York. Durante a combustão as portas da empresa estavam fechadas, resultando em 146 mortes (125 mulheres e 21 homens). As causas desse incêndio foram as péssimas instalações elétricas, composição do solo, repartições da fábrica e a grande quantidade de tecido presente, que serviram de combustível para o fogo.
Embora este incidente (assassinato) seja o considerado o principal para determinar a data, há registros anteriores nos Estados Unidos e na Europa, em que mulheres manifestaram por melhores condições de trabalho, a morte delas em 1911 só trouxe à tona as más condições e o modo que este enfrentamento estava sendo feito.
A data de 8 de março foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas) apenas em 1975, como símbolo da luta das mulheres para terem condições equiparadas às dos homens. 1975 também foi considerado o Ano Internacional da Mulher (também pela ONU) para lembrar suas conquistas políticas e sociais. Se hoje podemos usufruir de diversas vitórias em nosso dia a dia (como publicar este simples texto) e embora a data seja mundial, ainda há muito para lutar.
Todxs Putxs – Ekena
“Eu tenho pressa e eu quero ir pra rua
Quero ganhar a luta que eu travei
Eu quero andar pelo mundo afora
Vestida de brilho e flor
Mulher, a culpa que tu carrega não é tua
Divide o fardo comigo dessa vez
Que eu quero fazer poesia pelo corpo
E afrontar as leis que o homem criou pra dizer”
A letra é um completo manifesto, literalmente a descrição do título, contradições do nosso cotidiano que nos deixa Todxs Putxs. Um grito preso no mais profundo de nossas gargantas, corações e almas. Não há o que falar sobre esta canção, apenas… sentir, assim entenderá o que quero dizer.
Mulamba – Mulamba
A banda curitibana é a própria militância, suas letras são dedicadas à constante luta, um manifesto em forma de poesia, mas aqui destacamos a música que leva o título do grupo Mulamba.
Trazendo a tona nomes daqueles mal vistos pela sociedade (em grande parte pela luta de seus ideais), Mulamba vem com o que a sociedade chama de escória, mas que tem o poder da transformação, pois trás consigo toda a dor acumulada, como força.
“Eu sou aquilo que ninguém mais acredita
Eu sou a puta, eu sou a santa e a banida
Sou a bravura e os surtos de Anita Garibaldi
Bandeira baixa ou bandeira que agita”
***Flawless – Beyoncé Feat. Chimamanda Ngozi Adichie
Queen B na lista? Sim.
Flawless (principalmente com o clipe oficial) fala de uma sociedade machista em que tentam nos colocar para baixo, com palavras e atitudes, Beyoncé insiste que continuemos lutando, a inserção do discurso de Chimamanda também é essencial para esta fala. Não importa o que fazemos, mulheres são postas de lado nas mais diversas situações, sempre em segundo.
Necomancia – Linn da Quebrada feat. Gloria Groove
Por mais que falamos de luta das mulheres e todo um discurso (a certo ponto) repetitivo, nos esquecemos que corpos de mulheres trans são corpos femininos, e devem ter seu lugar na luta. Necomancia é um grito da militância urbana, atual, daquelas que não dependem do outro (do homem) para sobreviver. Se livrando do molde “bela, recatada e do lar”, a cada negativa da sociedade mostra sua essência, seu eu.
“Puxando navalha na vala da rua tomou bordoada
Que ela não se cala, se vinga na vara e não para
Bumbum não para
Afeminada, bonita e folgada
Lugar de fala, ela quem fala
Pegou verdade e jogou na sua cara”
Stato di Natura – Francesca Michielin feat. Manëskin
A canção italiana pode não ser tão conhecida em nosso país, mas diz muito sobre situações que ainda não mudaram ao longo dos anos, além de comparações com situações consideradas “normais” por todos e outras (que deveriam ter a mesma carga) completamente inimagináveis, a ponto de ser consideradas absurdas.
“Usate il nostro seno ovunque, una cosa normale
Ma se allattiamo in pubblico? (Non si fa, è immorale)”
Usam nossos seios em todos os lugares, o que é normal
Mas e se amamentarmos em público? (Não se faz, é imoral)
Dando peso a todo discurso, a participação de Manëskin. A voz de Damiano entra em concordância com o dito por Francesca e reconhecendo a misoginia de nossa sociedade.
“Siamo schiavi di una cultura patriarcale La cultura del possesso
Dove nessuno può più scegliere da che parte stare
Dove una madre è solo madre, una figlia è solo figlia
Un uomo è solo uomo e l’amore è solo uno
E ho visto troppe mani non alzarsi
In aiuto degli altri e diventare schiaffi
E non è un complimento urlare “che bel culo”
Ricorda, non ti rende uomo saper dare un pugno”
Somos escravos de uma cultura patriarcal, a cultura da posse
Onde ninguém pode escolher de que lado ficar
Onde uma mãe é apenas uma mãe, uma filha é apenas uma filha
Um homem é apenas homem e o amor é apenas um
Vi muitas mãos não se levantarem para ajudar os outros e apanharem
Não é um elogio gritar “que bunda gostosa”
Lembre-se, saber socar não faz de você um homem
Comando – Negra Li
A densidade de Comando não se sustenta apenas na militância feminista, mas se agarra à racial. A letra mostra o embate de lutas travadas a anos por essas mulheres que moldam e transformam nossa sociedade.
No clipe, Negra Li carrega a ideia de ancestralidade e traz sua filha como umas das personagens reafirmando essa ideia, além de projetar nela a continuidade desta luta.
“A que comanda, apoiada por mais de cinquenta mil manas
Essa é minha fama, nega drama
Quatro décadas são pétalas
Me fez florir
Minha história, eu mesma que escrevi
Glórias, vitórias ainda estão por vir
Você vai sentir”
I am Woman – Emmy Meli
A música que viralizou no Tik Tok e reels do Instagram, demonstra justamente a adaptação dos vídeos produzidos mundo afora.
Aqui, diferente das anteriores, temos uma música de amor próprio, ser quem você quiser, ponde de lado os padrões impostos pela sociedade. A letra e melodia mais leves carregadas de soul music não descaracterizam sua relevância, por vezes buscamos atingir certas expectativas e deixamos de lado nossa essência, nossas escolhas.
“Only love can get inside me
I move in my own timing
Voice of the future, speak to me kindly
I feel what I want and somehow it find me
Somehow it find me”
Só o amor pode entrar em mim
Me movo em meu próprio tempo
Voz do futuro, fale comigo gentilmente
Eu sinto o que quero e de alguma forma isso me encontra
Tão importante quanto o coletivo é o individual, estar bem consigo também reflete no entorno.
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