Longa não deveria ser resumido a um filme com Harry Styles
Muito antes de começar a ser filmado, o filme “Não Se Preocupe, Querida” já era um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Entre as fofocas, estavam o relacionamento amoroso do cantor Harry Styles com a diretora Olivia Wilde, Shia Labeouf sendo demitido, o desentendimento entre Florence Pugh com a cineasta e até mesmo o músico sendo supostamente flagrado “cuspindo” em Chris Pine. Cercado de polêmicas e com bastidores turbulentos, “Não Se Preocupe, Querida” chega aos cinemas nesta quinta-feira (22) com a tentativa de envolver com grandes reviravoltas e deixar o público preso nas cadeiras enquanto os créditos sobem. Com roteiro de Katie Silberman (“Fora de Série”) e Shane Van Dyke (“O Silêncio”), a história faz uma grande crítica ao machismo impregnado em nossa sociedade ao acompanhar Alice (Pugh), uma dona de casa que vive em uma comunidade experimental durante 1950. Ela é casada com Jack Chambers (Styles), que trabalha na empresa responsável por manter essa sociedade perfeita e sem perigos. Tudo é lindo na vizinhança. Os dias são ensolarados, nunca falta comida, momentos de lazer, bons drinques e dinheiro para as compras. Todos têm um papel a desempenhar: os homens são os provedores que trabalham durante o dia inteiro e ao chegarem em casa, encontram tudo limpo, comida feita, roupa lavada e suas esposas cheirosas, sorridente e sempre impecáveis os aguardando com um copo de whisky em mãos. Os dias são praticamente iguais, uma eterna lua de mel para os casais.
Alice é a primeira a notar que nem todos estão felizes com a vida naquela microssociedade experimental perfeita. Que existe um padrão bizarro envolvendo os acontecimentos na vida de todos os casais com quem convivem. Mas todos aqueles que questionam, são excluídos rapidamente do ciclo social. É assim que ela começa a suspeitar que os maridos podem estar escondendo segredos perturbadores. O grande destaque do filme é Florence Pugh. Enquanto o roteiro não se sustenta, a performance da atriz é tão acima do restante do elenco, que nem mesmo Chris Pine chega a sua altura. Como vilão, ele parece não ter encontrado o tom ideal para o personagem. Gemma Chan não tem tempo suficiente para brilhar, enquanto Harry
Styles até se esforça como marido charmoso, mas não tem a menor chance comparado ao talento brilhante de Pugh.
É até triste saber que essa obra tem grandes chances de se resumir a apenas ao “filme com Harry Styles”, quando quem realmente carrega a narrativa, mesmo com suas falhas, e a mantém convincente do começo ao fim é Florence. Ela é o suficiente para te deixar interessado no mistério envolvendo a utopia. O roteiro retrata com fidelidade o machismo na sociedade, sem precisar encher o texto com frases prontas. A trilha sonora tenta criar um ambiente cheio de tensão e muito intrigante enquanto a história se esforça também para te convencer de que você está assistindo ao próximo “O Show de Truman” (1998) ou “Garota Exemplar” (2014). Desde a primeira cena, o filme estabelece que aquela sociedade não é natural e quando Alice dá início a sua investigação, fica claro que nada daquilo é verdadeiro, mas ainda assim a história insiste em continuar fornecendo informações de que nada é real.
Ao subestimar o entendimento do público e se esforçar para ser algo muito mais complexo do que realmente precisa ser, a história perde seu muito de seu brilho. No fim, “Não se Preocupe, Querida” é uma grande sensação de “já vi esse filme antes”, tirando o que deveria ser seu grande triunfo: a originalidade.
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