No que diz respeito à Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante, contada em por Elena Grecco, a Lenu, a história acompanha a vida das amigas Elena e Rafaela (Lila/Lina), desde a infância até a fase adulta.
O livro inicia com o filho de Rafaela, indagando o desaparecimento da mãe, o que é rebatido por Elena afirmando que a amiga passou a vida toda informando que um dia isso aconteceria. Porém, quando Gennarino vira as costas, a primeira coisa que ela faz é relatar a história da amiga.
A amizade entre Elena e Rafaela surgiu na escola. Rafaela é uma garota brilhante, quase autodidata, esse brilhantismo garantiu a ela destaque na escola e em todos os lugares que frequentava. Outro destaque de seu perfil é a capacidade de fazer as coisas à sua maneira. Inicialmente, Elena olhava aquela garota com curiosidade, em seguida com inveja, isso fez com que Lenu se dedicasse aos estudos para ser como Lina. Não demorou muito, ela passou a um intelectual entre os professores e as duas garotas se tornaram amigas.
Diferente de Rafaela, Lenu continuou os estudos até se formar na universidade, porém não era o suficiente, vivia à sombra da Rafaela. Toda decisão a ser tomada ela pensava “o que Lila faria?”, isso se aplicava na faculdade, nos relacionamentos, com quem conversava e se relacionava, o tipo de roupa e penteado que usava. É impressionante o quanto essa dependência não é saudável e ela se dá conta disso apenas no terceiro livro, mas ao virar a página, ela imputa essa dependência em outras pessoas. O que é uma pena, pois impede que ela viva por si mesma e seja autêntica.
Elena guardou para si a paixão que mantinha por Nino Sarratore, desde a infância, receio do que as pessoas falariam. Na fase adulta, Rafaela e Nino mantêm um caso extraconjugal após uma viagem de férias a Ischia, na região litorânea da Itália. Amantes por mais de um ano, quando Lila decidiu largar o marido e viver com Nino, a primeira coisa que a Lena faz é criticá-la. Após o término, Rafaela entrou em uma grande depressão. Anos depois, quando Nino ressurge em sua vida, Elena, já casada e com duas filhas, faz exatamente o mesmo que Rafaela, sem pensar duas vezes.
A essa altura, Nino também já era casado, e de todos os filhos que ele tem, assumiu a paternidade de apenas dois. O casal decide divorciar e assumir esse novo relacionamento. Elena pede, Nino não. O grande problema disso tudo é que ela sabe a merda em que está se envolvendo, e mesmo assim continua.
“Havia outros sim que eu fingia ignorar. Sim, estava atraída por ele mais do que nunca. Sim, estava pronta para deixar tudo e todos se ele precisasse de mim. Sim, os laços com Eleonora, Albertino e a recém-nascida Lídia eram pelo menos tão fortes, quanto aqueles com minhas filhas e comigo. Sobre esses sims, desciam véus escuros, e caso aqui ali se abrisse alguns rasgos que tornassem o estado das coisas evidente, eu logo recorria a frases empoladas sobre o mundo futuro: tudo muda, estamos inventando novas formas de convivência e com outras balelas desse tipo como as tantas que eu mesma dizia toda vez que eu falava em público ou escrevia”.
História de quem foge e quem fica (2016).
Esse poder que Rafaela tem de persuasão, também está embutido em várias outras pessoas, um exemplo bem claro é Alfonso, que foi uma criança inteligentíssima na época, foi para a universidade. Quando Elena reencontra Alfonso após anos, ela percebe as semelhanças entre ele e Lila, não apenas no caráter ou atitudes, mas semelhanças físicas. Elena buscou sua vida inteira exercer esse mesmo poder nas pessoas, queria ter um controle nos homens, queria ser desejada, ser quem não era.

Se você ainda não leu a tetralogia, uma sugestão é ler concomitantemente com a série (My brilliant friend, 2018. HBO). Cada livro corresponde a uma temporada, e é simplesmente uma adaptação muito boa, na questão de detalhamento dos personagens, a cenografia, os figurinos remetendo os anos 40 e os diálogos. Todos os elementos do texto de Elena Ferrante, foram transformados de uma forma muito concreta na série.
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