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Crítica | Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Uma ode às lembranças felizes

Entrar em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, não é fácil. Ele é um filme carregado de muitas emoções. Desde o orgulho de sermos nós mesmos, da alegria de celebrar nossas culturas e tradições, até sobre sentir e superar a tristeza do luto.

Ao invés de um lugar de conforto, a história já se inicia em um momento crítico, tenso e extremamente emocional, em que sabemos que iremos perder nosso herói. Com uma sensação de impotência e luto, o filme começa com seus personagens se questionando exatamente o que nos questionamos desde o falecimento de Chadwick Boseman em 2020: Como será um filme do Pantera Negra, sem o Pantera Negra?

A partir dali, vemos como Shuri, interpretada por Letitia Wright, nos leva em uma jornada em busca dessa resposta. Fugindo de um maniqueísmo que acabamos seguindo cegamente, quando se fala de filmes de heróis, a princesa se torna aos poucos uma protagonista cinza. O primeiro Pantera já nos havia apresentado um personagem parecido, Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan. Entretanto, Shuri não se iguala a seu tio.

A princesa Shuri flutua de forma muito mais leve e muito mais sutil entre seus momentos mais puros e seus momentos mais sombrios. Enquanto Killmonger, muito mais inflamatório e incisivo, se tornava cinza por alcançar dois extremos muito radicalmente, sua sobrinha se torna cinza por se sentir perdida em seu luto, o que é visível no padrão de metais presente em seu uniforme de Pantera Negra. Mesclando o dourado e o prateado de forma fluida, mas carregado de pequenos detalhes que se assemelham com sua pintura de batalha, usada durante as cenas de combate no final do primeiro filme, Shuri representa de forma visual clara quem é e como se sente realmente.

Essa característica menos combativa e mais incerta vinda de Shuri, nos permite ver seu caráter, seus desejos, seus sonhos, seus medos e suas feridas emocionais de forma mais clara, nos tornando mais íntimos da personagem, a abraçando e acolhendo como protagonista e nova Pantera Negra de forma mais orgânica. Graças a Shuri, também podemos ver um lado de nosso antagonista e de seu povo, que não seria possível sem sua curiosidade e desejo de entender e conhecer o novo.

Namor, interpretado pelo encantador Tenoch Huerta, que seguindo a tradição do primeiro filme, não é um vilão e sim um anti-herói, é nosso antagonista da vez. Ele é carregado de referências e símbolos culturais e históricos dos povos Astecas, que viveram na região do México, na América do Norte, e que foram massacrados pelos colonizadores invasores europeus no início do século XV.

Conforme a história progride, os traumas e as perdas sentidas por ambos os povos, tanto Wakanda quanto Talokan, são colocadas lado a lado. Ambos os lugares se esconderam para que não fossem devastados pelas ações de colonizadores saqueadores, que iriam roubar recursos e forçar suas línguas e religiões sobre os nativos. Duas nações que passaram pelas mesmas dores e que no final do filme conseguem enxergar de verdade o quão similares são.

No filme é possível ver três tipos diferentes de luto: O luto sentido pelo povo de Wakanda, representado na postura da Rainha Mãe, Ramonda, interpretada lindamente por Angela Bassett, que deve tomar o trono, envolta de respeito e da sensação de estar sem rumo, causada pela perda de seu filho, o líder, e os problemas geopolíticos enfrentados após a perda, apenas intensificam esse sentimento; O luto sentido por Shuri, muito mais pessoal, envolto pela sensação de impotência por não poder fazer nada para ajudar seu irmão e o arrependimento de não estar presente, que foi somado a sua segunda perna durante o filme, também se soma a revolta, se tornando um pouco mais semelhante ao terceiro luto; O luto sentido por Namor, que perde sua mãe e que se revolta com as pessoas da superfície, que invadiram suas terras fazendo com que seu povo tivesse que fugir para as águas. Um luto cheio de revolta e desejo de vingança.

Todo o luto foi apresentado refletido em ações que geraram consequências, deixando em evidência quem são os verdadeiros inimigos e unindo as nações de Wakanda e Talokan.

A interpretação de Letitia, sempre muito mergulhada em carisma e diversão, foi fortemente desafiada nesse filme extremamente emocionante. Letitia, contudo, foi capaz de traduzir todos esses sentimentos muito bem, se provando uma forte sucessora, não ao trono, mas sim ao manto. Seus poderes vindos de uma réplica sintética da erva coração, servem como uma alegoria a passagem do manto na vida real, A erva pode não ser orgânica, já que foi extinta de forma trágica. Mas mesmo sendo fabricada, a erva sintética feita às pressas, por necessidade, ainda sim poderá dar poderes e servir de esperança para todos nós.

Sinto que não importa o que eu diga aqui, nada poderá refletir de forma fiel todos os acertos que esse filme teve. Das ótimas atuações, em especial por Danai Gurira e Winston Duke, que interpretaram Okoye e M’baku respectivamente, como também da surpreendente Dominique Thorne como Riri Williams. Até a narrativa coesa e carregada de amor. Nada será justo ou bom o bastante para transmitir o que esse filme significa para muitos.

Wakanda Para Sempre é uma ode a todo o amor e cuidado com as histórias e culturas que foram cultivados, assim como as que marcaram o primeiro filme. O respeito e beleza com que tratam as culturas e línguas das quais emprestam, nos cativa e emociona como sempre. Contudo, o filme também é uma ode a tudo que Chadwick Boseman e sua história representou a todos nós. Triste, sim. Mas cheio de esperança e amor, dos quais nunca nos esqueceremos. Afinal, a morte não é um fim, é mais como um ponto de partida.

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